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Nos balneários do Mundial de Futebol 2006, o jogador francês Vikash Dhorasoo andou com uma câmara Super 8 na mão, quase clandestinamente. Substitute, o documentário co-realizado com Fred Poulet, causou polémica e levou ao abandono de Dhorasoo da selecção francesa (mais tarde, foi também despedido da sua equipa, o Paris Saint German). Esse filme, onde se pode ver, por exemplo, o estado de espírito dos franceses antes do jogo determinante com Portugal, vai ser apresentado em estreia nacional no âmbito da quarta edição do Indie Lisboa – Festival Internacional de Cinema Independente, que decorre entre 19 e 29 de Abril.
Depois de três edições sempre em crescimento, o Indie decidiu parar para se consolidar, "em termos de programação e de organização", explicou Rui Pereira, um dos elementos da direcção, na conferência de imprensa realizada ontem. Assim, dos mais de 2500 filmes recebidos e depois de uma estafante tarefa de visionamento, foram seleccionados 223 títulos (no ano passado esse número foi superior a 300). A isto junta-se o facto de o festival estar espalhado por quatro cinemas (King, Londres, Fórum Lisboa e São Jorge), num total de oito ecrãs.
"Isto permite, por exemplo, que alguns filmes tenham três sessões, o que facilita a vida ao espectador", concluiu Rui Pereira. No total, o festival vai ter 270 sessões de cinema. Será também para facilitar a vida aos mais de 30 mil espectadores esperados que a Carris vai criar o "Indie Bus", uma linha de autocarro entre as várias salas.
Miguel Valverde, outro dos responsáveis pelo Indie, salientou o facto de este ser um "festival de estreias e descobertas": 19 filmes serão apresentados em estreia mundial e dez em estreia europeia. As descobertas estão reservadas, sobretudo, para a competição internacional (onde só cabem primeiras ou segundas obras terminadas ao longo do último ano). Nas secções não competitivas (Laboratório e Observatório) surgem os consagrados, como Hal Hartley que estará em Lisboa para apresentar o mais recente filme, Fay Grim.
Na secção Herói Independente, que se assume como homenagem ou retrospectiva, vão estar em destaque, por um lado, o realizador japonês Shinji Aoyama e, por outro, o novíssimo cinema alemão. "A Alemanha é o exemplo de um país que tem uma indústria cinematográfica a crescer e que tem beneficiado de alguns êxitos, mas que tem também muitas margens, espaços que estimulam a diversidade, logo desde as escolas de cinema. É um exemplo daquilo que não estamos a fazer cá", sublinhou Nuno Sena, o terceiro elemento da direcção.
A secção Director's Cut, além de novas versões de filmes antigos, abriu-se a filmes que têm como temática o próprio cinema. É o caso de Olhar o Cinema Português, de Manuel Mozos, que traça uma história breve do cinema feito em Portugal nos últimos 20 anos.
O festival mantém a tradição de ter uma secção dedicada a filmes sobre música e reforçada com duas sessões de filmes-concertos, ou seja, acompanhadas com música ao vivo: Mega Cities, com música dos Sofa Surfers, e O Garoto de Charlot que será acompanhado pelos Coty Cream. O Indie Junior, com 22 filmes para crianças e jovens, e a apresentação do programa especial 'New Crowned Hope' (filmes realizados para o programa oficial do centenários de Mozart) completam a programação cinematográfica, a que se juntam várias actividades paralelas.
No total, serão exibidos 88 longas-metragens e 135 curtas. Em termos de origem, a Europa continua a dominar (18 filmes portugueses e 109 do resto da Europa); mas há ainda38 asiáticos, 38 da América do Norte, 12 da América Latina e, pela primeira vez, três filmes africanos.
A aposta é alta, assumiu Rui Pereira: "Já somos o maior festival de cinema do país – com mais salas e mais sessões – mas também queremos ser melhor festival do país." Maria João Caetano