O presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues, escapou à crise que assola a autarquia, e da qual passou a principal protagonista ao saber-se que deverá ser ouvido como arguido pelas autoridades na quarta-feira no âmbito do processo Bragaparques, rumando para um encontro de motas antigas em Inglaterra com os amigos (...).
Pela primeira vez, todos os partidos representados na autarquia que não a maioria social-democrata convergiram ontem no cenário de eleições intercalares como uma hipótese a considerar para ultrapassar a crise. O secretário nacional do PS para as autarquias, Miranda Calha, admitiu uma ida às urnas "face à actual situação de desgoverno", e até o primeiro-ministro se pronunciou pela primeira vez sobre o caso, embora de forma minimal, ao desejar que a câmara "ultrapasse os seus problemas".
"O país precisa da Câmara de Lisboa", declarou, citado pela agência Lusa, ao mesmo tempo que os seus camaradas da concelhia punham a circular o nome de António José Seguro como putativo candidato socialista às eleições.
Caso o independente Carmona Rodrigues se recuse a abandonar a autarquia depois de constituído arguido, deverá perder a confiança política do partido que o elegeu, o PSD, o que conduzirá a um agravamento da crise. Se sair, deverá ser substituído no cargo pela vereadora e agora vice-presidente Marina Ferreira, que pertence à distrital social-democrata.
A sua legitimidade enquanto presidente de câmara estará, no entanto, muito comprometida, por causa não do seu desempenho até aqui, mas por causa do afastamento compulsivo das principais figuras que governavam a cidade, e cuja actuação está a ser investigada pelas autoridades: além de Carmona, o seu vice Fontão de Carvalho e a sua vereadora de confiança Gabriela Seara.
Para o vereador socialista Dias Baptista, não faz sentido que o cargo de presidente da câmara seja ocupado pelo número três do executivo. Já o democrata-cristão Anacoreta Correia, também citado pela Lusa, apelou a uma solução de consenso entre os partidos em torno dos principais assuntos da cidade, cenário no seu entender preferível à convocação de eleições - embora em declarações anteriores se tenha mostrado favorável a elas.
A oposição em bloco convergiu ontem pela primeira vez no cenário de eleições intercalares para superar a crise. Ana Henriques