(Intervenção de Miguel Anacoreta Correia, enviada para o jornal A Capital)
O problema não se põe em termos absolutos: OTA ou Portela. O que está
em causa é saber se a decisão do Governo foi precedida de todos os
estudos necessários tendo em conta as implicações de um empreendimento desta natureza e dimensão. Não foi.
Já tive ocasião de dizer que, por exemplo, não foram feitos estudos
profundos sobre a saturação do espaço aéreo, sobre quanto custa o comboio que faz a ligação entre a OTA e Lisboa em menos de 20 minutos, sobre quanto custa desactivar e recuperar os terrenos poluídos da Portela... todos estes estudos não foram feitos. E, com certeza, muitos outros.
Mas o problema maior é que, essencialmente, não foi estudado o impacto económico da decisão de mudar da Portela para a OTA. Um novo aeroporto não é só uma questão de orçamento e de custo para o contribuinte, mas tem implicações económicas que não foram inimamente estudadas.Lisboa perderá competitividade.
Não foi realizado um estudo comparativo entre a Ota e a hipótese da
Portela reforçada por um dos dois aeroportos da Área Metropolitana de
Lisboa: Montijo ou Alverca. A Portela, dentro de dois anos, concluídas as obras em curso, ficará com uma reserva de capacidade de 30 a 40 por cento.
Estes "aeroportos complementares" - Montijo ou Alverca - poderão
atingir capacidades de seis a sete milhões de passageiros com investimentos muito moderados. Sou, em conclusão, contra a forma como foi tomada a decisão, gravissimamente lesiva para os interesses de Lisboa. Mas decisões destas, tomadas com ligeireza, sobre equipamentos de grande significado para a cidade de Lisboa, sem previamente consultar o município, são um hábito antigo do Governo central. Vamos a ver como se passarão as coisas para o TGV...
Esta deturpação foi há dias denunciada pela Dra. Maria José Nogueira
Pinto. Foi a única de todos os candidatos a fazê-lo. Adoptada desta
forma, esta decisão é um erro. Se for provado que a Ota é essencial para o todo nacional, obviamente que serei a favor. Repito: tomar a decisão nestes termos significa apenas mais despesa pública e prejuízo para Lisboa.